O mito do judeu errante em “Judas ashverus”, de Euclides da cunha, e no poema "Ashaverus", de Marques de Carvalho/ The myth of the wandering Jew in “Judas Ashaverus” by Euclides da Cunha and in the poem “Ashaverus” by Marques de Carvalho
Resumo
Resumo: O mito do judeu errante está presente em diversos gêneros literários, desde a Idade Média, como se vê na narrativa A demanda do Santo Graal. Na literatura da Amazônia não é diferente. Euclides da Cunha em sua narrativa “Judas Ashverus”, inserida em À margem da História (1909), para falar da vida do seringueiro, se vale do mito do judeu errante associando-o à tradição cristã e antissemita do Judas do sábado de Aleluia. O “Judas Ashverus” traz à tona a narrativa medieval do judeu condenado por Cristo a não morrer por ter causado algum tipo de dolo a Jesus. De igual modo, Marques de Carvalho apresenta a mesma temática em seu poema “Ashaverus”, publicado na Antologia amazônica, de José Eustáquio de Azevedo (1970). Este trabalho propõe investigar a presença do mito do judeu errante no poema “Ashaverus”, de Marques de Carvalho e na narrativa “Judas Ashverus”, de Euclides da Cunha, considerando que este mito forneceu para o imaginário cultural de diversos povos uma perspectiva antissemita. Para o desenvolvimento deste trabalho, foram utilizados os trabalhos de Junito Brandão (1986), para tratar sobre o que é o mito, a sua importância e a sua relação com a literatura; as contribuições de Marie-France Rouart (1988), a propósito de algumas variantes do mito do judeu errante ao longo da história literária; de Alessandra Conde (2012) e (2020) e de Umberto Eco (2007), os quais ajudaram a entender sobre o antissemitismo e a marginalização do judeu na literatura e outros. Este trabalho permitiu-nos conhecer a história literária do mito do judeu errante, o qual atravessa múltiplas literaturas, ganhando novos sentidos, além disso, conhecer este mito levou-nos a considerar categorias de estereótipos racistas que transitam na cultura e que precisam ser conhecidos para ser evitados.
Summary: The myth of the wandering Jew has been present in various literary genres since the Middle Ages, as can be seen in The Quest for the Holy Grail. Amazonian literature is no different. Euclides da Cunha, in his narrative “Judas Ashverus”, included in À margem da História (1909), to talk about the life of the rubber tapper, uses the myth of the wandering Jew, associating it with the Christian and anti-Semitic tradition of the Judas of Hallelujah Saturday. The “Judas Ashverus” brings up the medieval narrative of the Jew condemned by Christ not to die for having caused some kind of offense to Jesus. Similarly, Marques de Carvalho presents the same theme in his poem “Ashaverus”, published in the Amazon Anthology by José Eustáquio de Azevedo (1970). This paper aims to investigate the presence of the myth of the wandering Jew in the poem “Ashaverus” by Marques de Carvalho and in the narrative “Judas Ashverus” by Euclides da Cunha, considering that this myth has provided the cultural imagination of various peoples with an anti-Semitic perspective. For the development of this work, we used the works of Junito Brandão (1986), to deal with what myth is, its importance and its relationship with literature; the contributions of Marie-France Rouart (1988), regarding some variants of the myth of the wandering Jew throughout literary history; Alessandra Conde (2012) and (2020) and Umberto Eco (2007), who have helped us to understand antisemitism and the marginalization of the Jew in literature and others.
Palavras-chave
Literatura
Texto completo:
PDFReferências
A Demanda do Santo Graal. Edição de Irene Freire Nunes. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1995.
AZEVEDO, José Eustáquio. Antologia amazônica: poetas paraenses. 3 ed. Belém: Conselho Editorial de Cultura, 1970.
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Vol 1. Petrópolis: Vozes, 1986.
CONDE, Alessandra. Memórias de um velho marginal e de um velho pescador n'A demanda do Santo Graal. Brathair. 12 (2), 2012, p. 74-84. Disponível em: https://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/view/748.
CONDE, Alessandra. Os judeus na Amazônia: antissemitismo e literatura. Revista NóS: Cultura, Estética e Linguagens, Volume 05 - Número 01 – 1º Trimestre – 2020.
CUNHA, Euclides da. À Margem da história. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ECO, Umberto. História da Feiura. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2007.
ELIADE, Mircea. Mito e realidade. Tradução Pola Civelli. São Paulo: Perspectiva, 1972.
FLOR DA SILVA, Alan Victor. Marques de Carvalho (1866-1910) e o naturalismo na Amazônia paraense. Matraga, v. 28, n. 54, p. 499-512, set./dez. 2021.
FRANCO JUNIOR, Arnaldo. Operadores de leitura da narrativa. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (ORG.). Teoria Literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. 3a. ed. Mariná: Eduem 2009. p.33-58.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. São Paulo: Ática. 2005.
IGEL, Regina. O incorrigível judeu errante como figura literária no Brasil. In: Amilat. Vol. VIII. 2020, p. 571-598. Disponível em: https://amilat.online/wp-content/uploads/2020/01/Regina-Igel-8-571.pdf
MONFARDINI, Adriana. O mito e a literatura. Terra roxa e outras terras, v. 5, p. 50-61, 2005.
CONDE, Alessandra. O judeu errante em Cien años de soledad, de Gabriel Garcia Márquez. In: OTTE, Georg; NASCIMENTO, Lyslei (org.). No princípio, o mito: do arcaico ao contemporâneo na literatura. São José do Rio Preto: HN, 2024, p. 12 - 34.
QUEIROZ, Maria José de. O judeu errante. In: ______. Refrações do tempo. Tempo histórico. Tempo literário. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996. p. 194-174.
ROUART, Marie-France. O mito do Judeu Errante. In: BRUNEL, Pierre (Org.). Dicionário de mitos literários. Trad. Carlos Sussekind et al. Rio de Janeiro/Brasília: José Olympio/UNB, 1998. p. 665-671.
DOI: http://dx.doi.org/10.18542/apalavrada.v0i27.18502
Apontamentos
- Não há apontamentos.
ISSN: 2358-0526 / ISSN-L: 2236-4536
E-mail: apalavrada@ufpa.br
Endereço: Faculdade de Letras - FALE / Al. Leandro Ribeiro, s/n, Aldeia / Campus Universitário de Bragança / 68600-000 - Bragança/PA – Brasil
Instagram: @apalvrada.ufpa
Licenciado sob CC BY-NC-SA 4