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Quando o rio não VALE mais: o dilema de comunidades às margens do rio Paraopeba após o desastre em Brumadinho

Tatiane Lúcia Melo, Regina de Paula Medeiros, Rodrigo Corrêa Teixeira

Resumo

O artigo apresenta os resultados de um estudo realizado no primeiro semestre de 2019 em um acampamento originário do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, instalado às margens do rio Paraopeba, próximo à cidade de Brumadinho, em Minas Gerais. A pesquisa teve como objetivo analisar as consequências do desastre do rompimento da barragem da empresa Vale e seus efeitos, particularmente, na contaminação das águas do rio Paraopeba, que é usado pelos moradores do acampamento.  O método utilizado foi a pesquisa qualitativa, priorizando o relato dos moradores locais, observação direta realizada durante visitas in loco. As informações obtidas e as observações foram registradas em diário de campo e em fotos com o consentimento dos moradores. Os resultados do estudo apontam para os danos irreparáveis à sobrevivência, ao cotidiano e à saúde dos moradores, além do aprofundamento do quadro de marginalização e vulnerabilidades desse público.


Palavras-chave

Violação de direitos. Vale. Desastres. Injustiça ambiental. Rio Paraopeba. Covid-19.


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/ncn.v25i1.8796

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