Revista Humanitas

LUGAR DE VIDA POPULAR E BEM VIVER EM BELÉM (PA): PERTENCIMENTO, TRADIÇÃO E IDENTIDADE

Jakson Silva da Silva

Resumo

Resumo: Nomeada pelos Tupinambá de Mairi e rebatizada pelos colonizadores portugueses, em 1616, como Santa Maria de Belém do Pará, a cidade hoje, com 406 anos, tornou-se importante centro metropolitano na Amazônia, com suas torres residenciais de alto padrão, shoppings centers e orlas requalificadas. A urbanização modernizadora, entretanto, não apagou seus traços indígenas e negros em lugares de vida popular. Essas heranças culturais são representativas na cidade, tanto em termos econômicos como simbólicos, e demonstrar essa presença é o objetivo do presente artigo, particularmente no que diz respeito ao Porto da Palha como espaço de tradição e pertencimento. A noção de Bem Viver é referência para um conceito de direito à cidade, atualizado para valorizar saberes, economias e tradições, situados nos lugares. É uma concepção aplicada a lugares urbanos, tais como feiras, mercados, portos e trapiches, que têm quilombolas e ribeirinhos como usuários, mas também muitos citadinos classificados pretos e pardos sem pertencimento e identidade mais assumidas, submetidos todos às imposições da lógica neoliberal excludente do desenvolvimento urbano que pretende removê-los dos seus lugares de vida, trabalho, lazer e moradia.

Palavras-chave: Belém; Porto da Palha; Bem Viver; direito à cidade.

 

 

 

PLACES OF POPULAR LIFE AND GOOD LIVING IN BELÉM (PA): BELONGING, TRADITION AND IDENTITY

Abstract: Named by the Tupinambás of Mairi and renamed by the Portuguese colonists in 1616 as Santa Maria de Belém do Pará, the city today, at 406 years of age, has become an important metropolitan center in the Amazon, with its high-end residential towers, shopping centers and requalified edges. This modernizing urbanization, however, did not erase their indigenous and black traits in places of popular life. These cultural heritages are representative in the city, both in economic and symbolic terms, and demonstrating this presence is the objective of the article, particularly with regard to Porto da Palha as a space of tradition and belonging. The notion of Good Living is a reference to a concept of the right to the city, updated to value knowledge, economies and traditions, located in places. A conception of Good Living applied to urban places, such as fairs, markets, ports and warehouses, which have quilombolas and riverside dwellers as users, but also many urbanites classified as black and pardo without a more assumed identity and belonging, all subjected to the impositions of logic exclusionary neoliberal of urban development, which intends to remove them from their places of life, work, leisure and housing.

Keywords: Belém; Porto da Palha; good living; Right to the city

 

 

 

LUGAR DE VIDA POPULAR Y BUEN VIVIR EN BELÉM (PA): PERTENENCIA, TRADICIÓN E IDENTIDAD

Resumen: Denominada por los Tupinambás como Mairi y rebautizada por los colonizadores portugueses, en 1616, como Santa María de Belém do Pará, la ciudad hoy, con 406 años, se convirtió en un importante centro Metropolitano de la Amazonia Brasileña con torres residenciales de alto alcance, centros comerciales y aceras recalificadas. Esta urbanización modernizadora, entre tanto, no borró los rasgos indígenas y negros en los lugares de la vida popular. Estos patrimonios culturales son representativos en la ciudad tanto en términos económicos como simbólicos, por lo que demostrar esa presencia es el objetivo de este artículo, particularmente en lo que respecta al Puerto da Palha como espacio de tradición y pertenencia. La noción de Bienestar o Buen-vivir es referencia para el concepto de derecho a la ciudad, actualizado para valorizar saberes, economías y tradiciones tales como plazas de mercado, puertos y depósitos, que tienen poblaciones “quilombolas” y ribereñas como usuarios, pero también muchos ciudadanos clasificados como negros y pardos sin pertenencia e identidad asumidas, sometidos todos a las imposiciones de la lógica neoliberal excluyente del desarrollo urbano, que pretende removerlos de sus lugares de vida, trabajo, ocio y hogar.

Palabras-clave: Belém; Puerto da Palha; buen-vivir; derecho a la ciudad.


Texto completo:

PDF

Referências


ACOSTA, A. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Editora Elefante, 2016.

FALS BORDA, Orlando. Por la praxis: El problema de cómo intervenir en la realidad para transformarla. In: CRÍTICA Y POLÍTICA EN CIENCIAS SOCIALES. Simpósio Mundial de Cartagena. Bogotá: Punta de Lanza, 1977.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 25 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.

FREIRE. P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

HARVEY, David. Cidades Rebeldes: do Direito à Cidade à Revolução Urbana. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: M. Fontes, 2000.

JACQUES, Flávia V. S. O “buen vivir” e a construção de uma nova sociedade. Novos Cadernos NAEA, v. 23, n. 3, p. 105-119, 2020. Disponível: https://periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/ article/view/8481#:~:text=O%20Bem%20Viver%2C%20al%C3%A9m%20de,modo%20 de%20viver%20no%20mundo. Acesso em: 27 jan. 2022.

LAGARES, Fernanda Rodrigues; SANTOS, Cassyo Lima; NARDES, Katiúcia da Silva. O Bem Viver como alternativa de reconfiguração de cidades brasileiras. Revista Latinoamericana de Estudios en Cultura y Sociedad | Latin American Journal of Studies in Culture and Society, V. 03, ed. especial, 2017. Disponível: https://periodicos.claec.org/index.php/relacult/article/ view/553/264. Acesso em: 01 fev. 2022.

LOPES, Simeia de Nazaré. O comércio interno no Pará oitocentista: atos, sujeitos sociais e controle entre 1840-1855. Orientadora: Rosa ElizabethAcevedo Marin. 2002. 153 f. Dissertação (Mestrado em Planejamento do desenvolvimento), Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, Belém, 2002.

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. Tradução de T. C. Netto. São Paulo: Documentos, 1969. MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. Lisboa, Portugal: Edições 70, LDA, 2008.

NAZARÉ, Lima Mailson; GOMES, Raiane Pombeu; AMARAL, Assunção José Pureza. A rua dos pretos: identidade, cultura e resistência da juventude negra em Belém do Pará. PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP. Macapá, v. 13, n. 4, p. 201-212, jul./dez. 2020. Disponível em: https://periodicos.unifap.br/index.php/ pracs/article/view/5855 Acesso em 10 jul. 2020

PEIXOTO, Rodrigo C. D.; SILVA, Jakson Silva da. Segregação racial na orla de Belém: os portos públicos da Estrada Nova e o Ver-o-Peso. Boletim de Ciências Humanas do Museu Paraense Emílio Goeldi. Belém, v.11, n. 3., 2016.

PREFEITURA MUNICIPAL DE BELEM. Portal da Amazônia muda a cara de Belém. Belém: CINBESA, c2015. Disponível em: http://www.belem.pa.gov.br/app/c2ms/ v/?id=25&conteudo=2747 Acesso em: 10 jul. 2010.

PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM; Historico. Disponível em: https://promaben.belem. pa.gov.br/institucional/historico/. Acesso em: 12 jul. 2010.

QUIJANO,Anibal.Colonialidadedopoder, eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Edgardo Lander (org). ColecciÛn Sur Sur, CLACSO, Ciudad AutÛnoma de Buenos Aires, Argentina. setembro 2005. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=1366646. Acesso em: 22 maio 2018.

RAMOS, Alberto Guerreiro. Redução Sociológica. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996. RODRIGUES, C. I. Vem do bairro do Jurunas: sociabilidade e construção de identidades em espaço urbano. NAEA: Belém, 2008. SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.

SILVA, Jakson silva; PEIXOTO, Rodrigo C. D. Gentrificação e resistência popular nas feiras e portos públicos da Estrada Nova em Belém (PA). Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 10, n. 3, p. 681-697, 2015.

TRINDADE-JUNIOR, Saint-Clair C. Formação Metropolitana de Belém (1960-1997). Belém: Paka-Tatu, 2016.

VAINER, C. B. Pátria, empresa e mercadoria: notas sobre a estratégia discursiva do Planejamento Estratégico Urbano. In: ARANTES, Otília; VAINER, Carlos; MARICATO, Ermínia. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 75-103.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.