Revista Humanitas

CONTRIBUIÇÕES DA ÉTICA DO BEM VIVER PARA UMA EDUCAÇÃO QUE COLABORE PARA RESISTIR AO ANTROPOCENO

Amanda Veloso Garcia

Resumo

O colonialismo significou ao mesmo tempo a imposição de um ideal de humanidade e um ideal de modo de vida desconectado da natureza, pois a exploração do que se chama de “recursos naturais” não seria possível em uma relação integrada à natureza cultivada pelos povos submetidos às opressões coloniais. Este artigo tem como objetivo pensar sobre o problema “Como a educação pode colaborar para adiar o fim do mundo através da vitalização da existência?”. Inicialmente, apresentaremos o problema com base em uma análise da educação hegemônica e sua relação com o pensamento moderno/colonial e o Antropoceno, que tem como principal característica promover a separação entre mundos e a destruição das condições de vida no planeta. No segundo momento, apresentaremos outras perspectivas sobre a existência com base no que podemos aprender com as filosofias dos povos ameríndios e afro-brasileiros, que têm inspirado nossa atuação docente. Temos como objetivo apontar possíveis caminhos para uma educação integrada à realidade do nosso contexto e as experiências de “Bem Viver” nesse território, pensando uma educação que reconstrua as bases da nossa sociedade em diálogo com outros povos, mas também com outros seres.

Palavras-chave: Filosofia intercultural crítica; descolonização; antropoceno; pluriversalidade.

 

 

 


CONTRIBUTIONS OF THE ETHICS OF GOOD LIFE TO AN EDUCATION THAT COLLABORATES TO RESIST THE ANTHROPOCENE 

Abstract: Colonialism meant at the same time the imposition of an ideal of humanity and an ideal of a way of life disconnected from nature, as the exploration of what is called “natural resources” would not be possible in an integrated relationship to the nature cultivated by peoples subjected to colonial oppression.This article aimsto think about the problem“Howcan education help to postpone the end of the world through the vitalization of existence?”. Initially, we will present the problem from an analysis of hegemonic education and its relationship with modern/ colonial and Anthropocene thinking, whose main characteristic is to promote the separation between worlds and the destruction of living conditions on the planet. In the second part, we will present other perspectives on existence based on what we can learn from the philosophies of the Amerindian and Afro-brazilian peoples, which have inspired our teaching activities. We aim to point out possible paths for an education integrated to the reality of our context and the experiences of “Bem Viver” in this territory, thinking of an education that rebuilds the foundations of our society in dialogue with other peoples, but also with other beings. 

Keywords: critical intercultural Philosophy; decolonization; anthropocene; pluriversality





CONTRIBUCIONES DE LA ÉTICA DEL BUEN VIVIR PARA UNA EDUCACIÓN QUE COLABORE PARA RESISTIR AL ANTROPOCENO 

Resumen: El colonialismo significó al mismo tiempo la imposición de un ideal de humanidad y un ideal de una forma de vida desconectada de la naturaleza, ya que la explotación de los llamados “recursos naturales” no sería posible en una relación integrada con la naturaleza cultivada por pueblos sometidos a la opresión colonial. Este artículo tiene como objetivo reflexionar sobre el problema “¿Cómo puede la educación ayudar a posponer el fin del mundo a través de la vitalización de la existencia?”. Inicialmente, presentaremos el problema a partir de un análisis de la educación hegemónica y su relación con el pensamiento moderno/colonial y Antropoceno, cuya principal característica es promover la separación entre mundos y la destrucción de las condiciones de vida del planeta. En la segunda parte, presentaremos otras perspectivas sobre la existencia, basadas en lo que podemos aprender de las filosofías de los pueblos amerindio y afrobrasileño, que han inspirado nuestras actividades docentes. Nuestro objetivo es señalar posibles caminos para una educación integrada a la realidad de nuestro contexto y las vivencias del “Buen Vivir”, en este territorio, pensando en una educación que reconstruya los cimientos de nuestra sociedad en diálogo con otros pueblos, pero también con otros seres. 

Palabras clave: Filosofía intercultural crítica; descolonización; antropoceno; pluriversalidad.



Texto completo:

PDF

Referências


ALBUQUERQUE, Maria Betânia Barbosa. Epistemologia e saberes da ayahuasca. Belém: EDUEPA, 2011.

BENITES. Sandra. Viver na língua Guarani Nhandewa (mulher falando). Orientadora: Bruna Franchetto, 2018, 105f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social), – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2017.

Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/docman/agosto-2017-pdf/71351-produto-estudo-sobre-aplicacao-leis10-639-2003-11-645-2008-pdf/file#:~:text=10.639%2F2003%20e%2011.645%2F2008%20 que%20tornam%20obrigat%C3%B3rio%20o%20ensino,3.19. Acesso em: 28 set. 2022.

COSTA, Alyne de Castro. Cosmopolíticas da Terra: modos de existência e resistência no Antropoceno. Orientadora: Deborah Danowski, 2019. 303 f. Tese (Doutorado em Filosofia), – Departamento de Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

DANOWSKI, Débora; CASTRO, Eduardo Viveiros de. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Florianópolis: Cultura e Barbárie/Instituto Socioambiental, 2014.

DUSSEL, Enrique. 1492: o encobrimento do outro – a origem do mito da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1993.

GROSFOGUEL, Ramón. Del extractivismo económico al extractivismo epistémico y al extractivismo ontológico: una forma destructiva de conocer, ser y estar en el mundo. Tabula Rasa. Bogotá - Colômbia, n.24, p.123-143, enero-junio 2016.

HARAWAY, Donna. “Estamos diante de uma crise do modelo de civilização”. [Entrevista concedida a] Ricardo Mir de Francia. Revista IHU On-line. 18 set, 2019a. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/592682-estamos-diante-de-uma-crise-do-modelo-decivilizacao-entrevista-com-donna-haraway. Acesso em: 30 maio 2020.

HARAWAY, Donna. O Manifesto das Espécies de Companhia: Cães, Pessoas e a Outridade Significante. Chicago: Prickly Paradigm Press, 2003.

HARAWAY, Donna. Seguir con el problema: generar parentesco en el Chthuluceno. Espanha: Consonni, 2019b.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã Yanomami. Tradução Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das letras, 2019.

KRENAK, Ailton. Caminhos para a cultura do Bem Viver. Disponível em: https://cdn. biodiversidadla.org/content/download/172583/1270064/file/Caminhos%20para%20a%20 cultura%20do%20Bem%20Viver.pdf. Acesso em: 20 dez. 2021.

LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura: a territorialização da racionalidade ambiental. Petrópolis: Vozes, 2009.

MARGULIS, Lynn; SAGAN, Dorian. O que é a vida? Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2002.

RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2019.

SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (orgs). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.

SIMAS, Luiz Antonio; RUFINO, Luiz; HADDOCK-LOBO, Rafael. Arruaças: uma filosofia popular brasileira. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

SIMAS, Luiz Antonio; RUFINO, Luiz. Fogo no mato: a ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2018.

TAKUÁ, Cristine. Teko Porã. O sistema milenar educativo de equilíbrio. São Paulo: Rebento. n. 9, p. 5-8, dez. 2018.

TAKUÁ, Cristine. Seres criativos da floresta. Cadernos Selvagem. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: http://selvagemciclo.com.br/wp-content/uploads/2020/11/CADERNO_4_ TAKUA.pdf. Acesso em: 05 jan. 2022.

VALENTIM, Marco Antonio. A sobrenatureza da catástrofe. In: Os mil nomes de Gaia: do antropoceno à idade da terra. Rio de janeiro: 2014. Disponível em: https://osmilnomesdegaia. files.wordpress.com/2014/11/marco-antonio-valentim.pdf. Acesso em: 18 de nov. 2021.

VALENTIM, Marco Antonio. Professor de Filosofia lança livro em que compara conceito de ‘’mundo’’ para ocidentais e ameríndios. [Entrevista concedida a] Camille Bropp. Carta Maior. 05 set, 2018. Disponível em: https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/entrevista-professor-defilosofia-lanca-livro-em-que-compara-conceito-de-mundo-para-ocidentais-e-amerindios-ufpr/. Acesso em: 28 set. 2022.

WALSH, Catherine. Interculturalidade crítica e pedagogia decolonial: in-surgir, re-existir e reviver. In. CANDAU, Vera Maria (org.). Educação intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009. p. 12-43.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.