Revista Humanitas

BEM VIVER E IMPESSOALIDADE NA VIDA METROPOLITANA: O MEMORIAL DA MORTE COMO VIVÊNCIA COMUNITÁRIA

Elisa Gonçalves Rodrigues, Diogo de Siqueira Bendelak dos Santos

Resumo

Este artigo se propõe a investigar a impessoalidade subjetiva da vida moderna e como o Bem Viver, enquanto proposta alternativa ao paradigma capitalista e filosofia de vida que ressalta aspectos comunitários da vida cotidiana, pode questionar tal impessoalidade. Argumenta-se, através de exemplos de vivências comunitárias concretas, sobre a possibilidade de alteração dessa impessoalidade subjetiva moderna e articula-se essa alteração ao exercício prático do Bem Viver. Para isso, faz-se uma revisão bibliográfica de autores da Antropologia e das Ciências Sociais, sobre a temática do Bem Viver e da vida subjetiva nas grandes metrópoles. Conclui-se que agenciamentos coletivos e vivências comunitárias, tendo como exemplo o rito fúnebre de rememoração dos mortos no Dia de Finados na sociedade brasileira, colocam em cena valores do Bem Viver no que se refere ao sentido de experiência comunitária, vivência coletiva e compartilhamento mútuo. Por conseguinte, vivências comunitárias desse tipo demandam uma subjetividade completamente diferente da subjetividade impessoal metropolitana - uma subjetividade aberta ao outro e à comunidade. 

Palavras-chave: Bem viver; impessoalidade; subjetividade.




GOOD LIVING AND IMPERSONALITY IN THE METROPOLITAN LIFE: THE DEATH MEMORIAL AS A COMMUNITY EXPERIENCE 

Abstract: This paper aimed to look into the subjective impersonality inside modern life, and how the concept of “Good living” as an alternative approach to the capitalist paradigm and a philosophy of life, emphasizes communitarian aspects of everyday life, which may lead to questioning that impersonality. Through tangible examples of communitarian experiences, it is argued about the chance of changing this modern subjective impersonality and relates that modification to the practical exercise of the “Good living” concept. In order to do that, it was made a bibliographical review of authors from Anthropology and Social Sciences, on the following themes: “Good living” and the subjective life in the big cities. It was concluded that collective mediations and communitarian experiences, taking as an example the rite of remembrancing the dead on the Day of the Dead in Brazil, bring into play values of Good living in relation to the sense of community experience, collective living, and mutual sharing. Therefore, community experiences of this kind demands a subjectivity completely different from the impersonal metropolitan one - a subjectivity open to others and to the community. 

Keywords: Good living; impersonality; subjectivity.



EL BUEN VIVIR Y LA IMPERSONALIDAD EN LA VIDA METROPOLITANA: EL MEMORIAL DE LA MUERTE COMO EXPERIENCIA COMUNITARIA

Resumen: Este artículo se propone a investigar la impersonalidad subjetiva de la vida moderna y en cómo el buen vivir, en cuanto propuesta alternativa al paradigma capitalista y filosofía de vida, que resalta aspectos comunitarios de la vida cotidiana, puede cuestionar tal impersonalidad. Se argumenta, a través de ejemplos de vivencias comunitarias concretas, sobre la posibilidad de alteración de esas impersonalidad subjetiva moderna, articulandose esa alteración al ejercicio práctico del Buen Vivir. Para eso, se hace una revisión bibliográfica en autores de la antropología y de las ciencias sociales, sobre la temática del buen vivir y de la vida subjetiva en las grandes metrópolis. Se concluye que agenciamientos colectivos y vivencias comunitarias, teniendo como ejemplo el rito fúnebre de recordación de los muertos en el dia de los finados en la sociedad brasilera, colocan en escena valores del Buen Vivir en el que se refiere a los sentidos de experiencia comunitaria, vivencias colectivas y compartir mutuamente. Por consiguiente, vivencias comunitarias de ese tipo demandan una subjetividad completamente diferente de la subjetividad impersonal metropolitana, una subjetividad abierta al otro y a la comunidad. 

Palabras claves: Buen vivir; impersonalidad; subjetividad.


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