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A indústria da carne em Rondônia como paradigma neoextrativista de desenvolvimento

Charles Carminati de Lima, Luciano Félix Florit

Resumo

Este artigo remete ao debate crítico sobre o neoextrativismo e fundamenta a importância da reflexão normativa em torno dos padrões de desenvolvimento, sendo muitas vezes decorrentes de fatores condicionados pelas relações de poder que se consolidam como modelo econômico predominante no território. Este estudo contribui no sentido de ampliar a concepção do neoextrativismo também para a atividade pecuária em Rondônia, principalmente após a implementação na década de 1970 de políticas que estimularam o crescimento da indústria da carne, cuja exploração envolve grandes investimentos de infraestrutura e que geram alta concentração de renda. No caso de Rondônia, atividades econômicas como a pecuária e a produção de grãos são legitimadas ao ponto de justificar uma suposta “vocação” regional do estado para o agronegócio. Pelo estudo realizado entre os anos de 2000 e 2019 na indústria da carne em Rondônia, é possível afirmar que essas atividades impactam na formulação de políticas concentradoras de recurso, e pouco equitativas na distribuição da renda, pois geram poucos empregos diretos e com baixa remuneração.


Palavras-chave

Neoextrativismo. Indústria da carne. Desenvolvimento regional. Rondônia.


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/ncn.v24i3.8847

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