Cabeçalho da página

ETNOBOTÂNICA APOIANDO AÇÕES EM EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO: UM ESTUDO DE CASO COM LICENCIANDOS EM CABO FRIO, RIO DE JANEIRO (BRASIL)

Nicky van Luijk, Mônica Machado Neves Ramos, Viviane Stern da Fonseca-Kruel

Resumo

As mudanças ambientais têm gerado impactos na biodiversidade e no conhecimento ecológico tradicional (CET) associado em diversas regiões do mundo. No Brasil, a região costeira vem sofrendo com a intensa pressão antrópica, a supressão da vegetação nativa (restinga) e consequentes perdas e/ou modificações do CET de comunidades de pesca artesanal, entre outras. Além disso, o processo de globalização e padronização dos sistemas educacionais estão transformando e empobrecendo o CET intergeracional. Nesse contexto, a educação pode subsidiar processos de registro e salvaguarda de conhecimentos bioculturais através da problematização e contextualização no ensino, ultrapassando as barreiras da sala de aula e tocando as questões socioambientais regionais. Essa contextualização pode ser realizada através do diálogo entre os conhecimentos tradicionais e científicos, sendo a Etnobotânica uma possível mediadora de saberes no campo da educação. Neste sentido, aqui descrevemos uma experiência de aproximação realizada com um grupo de licenciandos em Ciências da Natureza do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense – Campus Cabo Frio, futuros professores da rede básica de ensino na região de Cabo Frio, litoral sudeste do Brasil. Para tal, foi elaborado um jogo da memória, com informações etnobotânicas de espécies vegetais nativas da Restinga de Massambaba (RJ). A partir deste jogo foram realizadas trocas de informações e uma visita técnica de campo à Restinga de Massambaba, com estudantes dos cursos de Licenciatura em Biologia, em Química e em Física durante o Estágio Curricular Supervisionado III e Currículo e Avaliação da Aprendizagem. Estas atividades foram bem-sucedidas, pois os licenciandos se mostraram interessados em reaplicar futuramente o jogo na educação básica, além de em ampliar o conhecimento sobre a diversidade cultural e biológica da região em que atuarão.


Palavras-chave

educação; conhecimento local; etnobotânica; restinga; conservação biocultural


Texto completo:

PDF

Referências


ARAUJO, D.S.D., SÁ, C.F.C., PEREIRA, JF., GARCIA, DS., FERREIRA, M.V., PAIXÃO, M.J., SCHNEIDER, S.M., FONSECA-KRUEL, V.S. Área de Proteção Ambiental de Massambaba, Rio de Janeiro: caracterização fitofisionômica e florística. Rodriguésia v.1 n.60 p.067-096, 2009.

ASWANI, S., LEMAHIEU, A., SAUER, W.H.H. Global trends of local ecological knowledge and future implications. Plos One. n.13 v.4, 2018. e0195440.

BAPTISTA G.C.S., CARVALHO G. Working Conditions of School and Teacher Training in Science: A Study with Teachers of Biology of Bahia, Brazil, Procedia - Social and Behavioral Sciences., vol. 55, p. 57-61, 2012.

BAPTISTA G.C.S.; ARAUJO, G. M. Práticas etnobiológicas para o desenvolvimento da competência intercultural na formação do professor de biologia. Gaia Scientia, [S. l.], v. 12, n. 2, 2018. DOI: 10.22478/ufpb.1981-1268.2018v12n2.37901. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/gaia/article/view/37901. Acesso em: 27 jun. 2023.

BAPTISTA, G.C.S. Importância da demarcação de saberes no ensino de ciências para as sociedades tradicionais. Ciência e Educação, v. 16 n.3, p. 679-694, 2010.

BAPTISTA, G.C.S. (2014). Do cientificismo ao diálogo intercultural na formação do professor e ensino de ciências. Interacções, Lisboa, v. 10 (31):28-53.

BARREAU, A., IBARRA, J.T., WYNDHAM, F.S., ROJAS, A., KOZAK, R.A. How Can We Teach Our Children if We Cannot Access the Forest? Generational Change in Mapuche Knowledge of Wild Edible Plants in Andean Temperate Ecosystems of Chile. Journal of Ethnobiology, v.36, n.2, p.412-432, 2016.

BERKES, F., COLDING, J., FOLKE, C. Rediscovey of Traditional Ecological Knowledge as adaptative managament. Ecological Applications, v.1, n. 5, p.1251-1262, 2000.

BERNARDES, L.M.C; BERNARDES, N. A pesca no litoral do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v.12. n.1, p.17-54, 1950.

BRITTO, R.C. Modernidade e tradição – construção da identidade social dos pescadores de Arraial do Cabo. Eduff, Niterói, 1999.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). CABO FRIO. In: Enciclopédia dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE. v. 22, p. 210-216, 1959. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv27295_22.pdf. Acesso em: 29 de junho de 2023.

CARVALHO A.S.R, ANDRADE A.C.S, SÁ C.F.C, ARAUJO D.S.D, TIERNO L.R, FONSECA-KRUEL, V.S. Restinga de Massambaba: vegetação, flora, propagação, usos. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Vertente edições, 2018, 288p.

CHRISTOVÃO, J.H.O. Cabo Frio: transformações urbanas e construção de identidade na virada da 1ª para 2ª metade do século XX. XIV Encontro Regional da ANPUH-Rio: Memória e Patrimônio. Rio de Janeiro: Associação Nacional de História, UNIRIO, 2010.

CHRISTOVÃO, J.H.O. A gênese do turismo em Cabo Frio ou, de como o Sol se sobrepôs ao Sal. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH, São Paulo, 2011.

FONSECA-KRUEL, V.S., PEIXOTO, A.L., SÁ, C.F.C, ARAUJO, D.S.D, SILVA, W.L, FERREIRA, A.J. Plantas úteis da restinga: o saber dos pescadores artesanais de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2006, 42p.

GATTI, B. A prática pedagógica como núcleo do processo de formação de professores. In: GATTI, B. et al. Por uma política nacional de formação de professores. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

GOMEZ-BAGGETHUN, E., MINGORRIA, S., REYES-GARCÍA, V., CALVET, L., MONTES, C. Traditional Ecological Knowledge Trends in the Transition to a Market Economy: Empirical Study in the Donana Natural Areas. Conservation Biology, v.4 n.3 p.721–729, 2010.

GOMEZ-BAGGETHUN, E., REYES-GARCÍA, V. Reinterpreting Change in Traditional Ecological Knowledge. Human Ecology. Published online. 2013. DOI 10.1007/s10745-013-9577-9

IBGE. (2022). Cidades. Cabo Frio. Disponível em < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/cabo-frio/panorama> Acesso em acesso em 28 de junho de 2023.

INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE CAMPUS CABO FRIO (IFF). Cursos. 2023. Disponível em https://portal1.iff.edu.br/nossos-campi/cabo-frio/cursos Acesso em 28 de junho de 2023

INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE CAMPUS CABO FRIO (IFF). Notícias. Campus Cabo Frio completa 11 anos oferecendo educação pública de qualidade. 2020. Dispónível em https://portal1.iff.edu.br/nossos-campi/cabo-frio/noticias/campus-cabo-frio-completa-11-anos-de-educacao-publica-e-de-qualidade Acesso em 28 de junho de 2023

LIMA, L. F. DA S., OLIVEIRA, A. G. DE, PINTO, M. F. (2020). Etnobotânica e ensino: os estudantes do ensino fundamental como pesquisadores do conhecimento botânico local / Ethnobotanics and education: students of fundamental education as researchers of local botanical knowledge. Brazilian Journal of Development, v.6, n.7, p.47766–47776. 2020.

LUIJK, N.V., SOLDATI, G.T., FONSECA-KRUEL, V.S. The role of schools as an opportunity for transmission of local knowledge about useful Restinga plants: experiences in southeastern Brazil. Journal of Ethnobiology Ethnomedicine, v.17, n.34, 2021.

MCCARTER, J., GAVIN, M.C. (2011). Perceptions of the value of traditional ecological knowledge to formal school curricula: opportunities and challenges from Malekula Island, Vanuatu. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v.7, n.38, 2011.

MEIRIEU, P. O cotidiano da escola e da sala de aula: o fazer e o compreender. Trad. Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2005.

MELO, E. A., ABREU, F. F., ANDRADE, A. B., & ARAÚJO, M. I. O. A aprendizagem de botânica no ensino fundamental: Dificuldades e desafios. Scientia plena, v.8, n.10. 2012.

MOREIRA, A. F.; CANDAU, V. Currículo, Conhecimento e Cultura. In: BEAUCHAMP, J. et al (org.). Indagações sobre currículo: Currículo, Conhecimento e Cultura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. 48p.

PEREIRA, O.N.A, CASTRO, E.M.N.V, BASTOS, M.R, DIAS, J.A., RODRIGUES, M.A.C, FONSECA, L.C. A colonização portuguesa na região de Cabo Frio (Rio de Janeiro, Brasil) e o desenvolvimento da atividade piscatória. Revista Portuguesa de História, v. 48, 2017, DOI: https://doi.org/10.14195/0870-4147_48_7

PEREIRA, W.L.C.M. (2010). Vagas da modernidade: a Companhia Nacional de Álcalis em Arraial do Cabo (1943-1964). Estudos Históricos. v.23, n.46, p.321-343, Rio de Janeiro.

PIETRZAK, B. et al. Education for the future. Science, v. 360, n. 6396, p.1409-1412, 2018. .DOI: 10.1126/science.aau3877

PRADO, S.M. Da anchova ao salário mínimo: uma etnografia sobre injunções de mudança social em Arraial do Cabo, RJ. Niterói: Eduff, 2002.

REYES-GARCÍA, V., KIGHTLEY, I., RUIZ-MALLÉN, N., FUENTES-PELÁEZ, K., DEMPS, N.F.P.K., HUANCA, T., MARTÍNEZ-RODRÍGUEZ, M.R. Schooling and Local Environmental Knowledge: Do they complement or substitute each other? International Journal of Educational Development, v.30, n.3, p.305–313.

REYES-GARCÍA, V., PHYALA, A., DIAZ-REVIRIEGO, I., DUDA, R., FERNANDEZ-LLAMAZARES, A., GALLOIS, S., GUEZE, M., NAPITUPULU, L. Schooling, local knowledge and working memory: a study among three contemporary Hunter-gatherer societies. PLoSOne. v.11 n.1, 2016. e0145265.

REYES-GARCÍA, V., VADEZ, V., HUANCA, T., LEONARD, W.R., MCDADE, T. Economic development and local ecological knowledge: a deadlock? Quantitative research from a native Amazonian society. Human Ecology v. 35 p.371-377, 2007.

RUIZ-MALLÉN, I., BARRAZA, L., BODENHORN, B., REYES-GARCÍA, V. School and local environmental knowledge, what are the links? A case study among indigenous adolescents in Oaxaca, Mexico. International Research in Geographical and Environmental Education, v.18 n2, p.82 - 96, 2009..

SALATINO, A., BUCKERIDGE, M. (2016). Mas de que te serve saber botânica?. Estudos avançados, v.30, n.87, p.177-196, 2016.

SAYNES-VÁSQUEZ, A., CABALLERO, J., MEAVE, J.A., CHIANG, F. Cultural change and loss of ethnoecological knowledge among the Isthmus Zapotecs of Mexico. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, n.9, v.40, 2013.

SILVA, E.A.O., BAPTISTA, G.C.S. Un recurso acerca de los hongos para el diálogo intercultural en la enseñanza de biología. Góndola, Enseñanza y Aprendizaje de las Ciencias: Góndola, Enseñanza y Aprendizaje de las Ciencias, v.12 n.2, p.142-157, 2017.

SILVA, M.L.S, BAPTISTA, G.C.S. Conhecimento Tradicional como instrumento para dinamização do currículo e ensino de ciências. Gaia scientia, v.12, n.4, p.90-104, 2018

SIQUEIRA AB, PEREIRA SM. Abordagem etnobotânica no ensino de Biologia. Rev. Eletrônica Mestr. Educ. Ambiental, v.31, n.2, p.247-260, 2014.

SIQUEIRA, A.B. Etnobotânica no Currículo de Ciências na Educação de Jovens e Adultos. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 26, p.1-16. 2011. Disponível em: https://periodicos.furg.br/remea/article/view/3348. Acesso em: 14 fevereiro de 2020.

SIQUEIRA, A.B. Etnobiologia como metodologia no ensino de ciências. In: IV Simpósio sobre Formação de Professores–SIMFOP, Anais, Santa Catarina: Unisul, v. 4, p.1-7, 2012. Disponível em: http://linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop/artigos_IV%20sfp/_Andr%C3%A9_Siqueira.pdf. Acessado em: 30 janeiro 2020.

UNITED NATIONS DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, POPULATION DIVISION (ONU) (2022). World Population Prospects 2022: Summary of Results. UN DESA/POP/2022/TR/NO. 3. Disponível em https://www.un.org/development/desa/pd/sites/www.un.org.development.desa.pd/files/wpp2022_summary_of_results.pdf Acesso em 30 de junho de 2023.

URSI, S., SALATINO, A. Nota Científica - É tempo de superar termos capacitistas no ensino de Biologia: impercepção botânica como alternativa para "cegueira botânica". Boletim de Botânica, v.39, p.1-4, 2022.




DOI: http://dx.doi.org/10.18542/ethnoscientia.v8i3.14951

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2023 Ethnoscientia - Brazilian Journal of Ethnobiology and Ethnoecology

                    

ISSN 2448-1998