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MARCAS DE FUNDO DE PASTO: UM MODO DE VIVER QUE AINDA PERSISTE NA MEMÓRIA NAS TERRAS ENTRE OS INSELBERGUES E LICURIZAIS NAS CAATINGAS DA BAHIA, BRASIL

Aurélio José Antunes de Carvalho, Michele dos Santos CONCEIÇÃO, Luiz Alexandre Brandão FREIRE, Gabriel TROILO, José Jackson de Souza ANDRADE, Erasto Viana Silva Gama, Antônio Ramos da HORA NETO

Resumo

O presente trabalho se constitui numa proposta de averiguação da existência de remanescentes de comunidades tradicionais de Fundos de Pasto nas caatingas com inselbergues e licurizais, entre os Territórios de Identidade do Vale Jiquiriçá e Piemonte do Paraguaçu, municípios de Brejões, Iaçu, Irajuba, Itatim, Milagres, Nova Itarana e Santa Teresinha, no Estado da Bahia, Brasil. Para tanto, foi realizado um apanhado com o apoio de acervo bibliográfico de vários campos do conhecimento: história, geografia, biologia, agronomia, zootecnia e antropologia, de modo a auxiliar na exposição e análise da ocupação do território mencionado; e tomada de dados junto à população local. Assim, por meio de entrevistas semiestruturadas aplicadas junto a informantes idosos e lideranças de meia idade no citado território foco, e em comunidades tradicionais de Fundo de Pasto, em Brotas de Macaúbas e Monte Santo, nota-se que o processo colonizatório, nessa região, durou quatro séculos com a atividade pastoril de rebanhos de gado solto, perdurando até o início da segunda metade do século XX. Entretanto, ao ser encetada a lei do Pé Alto ou lei dos Quatro-fios, desestruturam-se formas seculares de vida e cultura, perceptíveis na memória de pessoas acima dos 60 anos na mencionada região. Na prática pastoril, identificaram-se as marcas ou os sinais realizados nos animais por meio de cortes feitos com faca nas orelhas dos criatórios, e cada um desses possui nomenclatura específica. Esses sinais serviam de “assinaturas” distintivas de famílias/pessoas, nos criatórios que forrageavam em áreas sem cercas. Tais práticas permanecem em comunidades de Fundo de Pasto, em Monte Santo e Brotas de Macaúbas, e presentes na memória de pessoas, entre os vales mencionados no pediplano sertanejo da região de Milagres. Possivelmente, seja um indicativo de práticas de remanescentes de comunidades tradicionais de Fundo de Pasto, exemplo de Jatobá (Milagres) e Traíras (Itatim), remontando a um passado recente de criação em regime de solta. O cercamento das terras contribuiu para a rápida extinção de raças crioulas, no território exposto no trabalho, assim como para maiores impactos socioambientais, concentração de terras, êxodo rural e perdas de práticas ancestrais de manejo de rebanhos, que expunham tais comunidades na atual categoria Fundo de Pasto. Evidenciam-se semelhanças nas comunidades dos territórios mesmo que disjuntos, afastados cerca de 400 km.


Palavras-chave

comunidades tradicionais; inselbergue; lei dos quatro-fios; práticas ancestrais; semiárido


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/ethnoscientia.v5i1.10290

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ISSN 2448-1998