Complexitas – Revista de Filosofia Temática

QUILOMBOS NA AMÉRICA DO SUL: EXPERIÊNCIAS DE RESISTÊNCIAS AO EUROCENTRISMO NA AMAZÔNIA

Mailson Lima Nazaré

Resumo

Este estudo analisa experiências de resistências à concepção eurocêntrica pós-colonial de desenvolvimento que vem causando impactos socioambientais em territórios quilombolas na América do Sul, esta concepção apoia-se no discurso da globalização neoliberal e na busca incessante de progresso com base na sociedade capitalista moderna ocidental, interferindo diretamente no uso de territórios por comunidades quilombolas, na medida em que estas são apontadas como as responsáveis de estarem causando o atraso ao desenvolvimentismo, por manterem seus modos de vida ancestrais. Além disso, esta concepção tem sido responsável por massacres e violações aos direitos de quilombolas na América do Sul por décadas, contexto que tem sido objeto de vários estudos acadêmicos de formas isoladas, entretanto, há a necessidade de se conhecer as realidades dos quilombolas na América do Sul de forma integrada, em meio as suas especificidades. Neste sentido, em virtude dos fatos mencionados, propomos este trabalho que procura analisar as experiências de resistências das comunidades quilombolas de Saramaka em Suriname e Gurupá no arquipélago do Marajó, no Estado Pará, Brasil. Estas comunidades destacam-se por intensas lutas por liberdade desde os regimes escravocratas até as lutas atuais contra o avanço tecnológico do agronegócio e dos grandes projetos econômicos que atingem seus territórios. Portanto, apresentamos como problema analisar como comunidades quilombolas na América do Sul constroem estratégias de resistências ao eurocentrismo pós-colonial, e como objetivos o de relacionar as características das principais lutas que envovem estas comunidades e conhecer os impactos socioambientais que são provocados pela concepção eurocêntrica desenvolvimentista. Desta forma, como metodologia realizamos pesquisa de caráter bibliográfico com abordagem qualitativa e de análise de conteúdo, para isto, utlizamos como fonte de coletas de dados, documentos oficiais e estudos de autores como Richard Price (1999), Cavlak (2015; 2016) e Acevedo Marin (2008; 2014; 2015). Entre os resultados verificou-se que as comunidades continuam tendo seus direitos violados e que há um avanço da concepção eurocêntrica de desenvolvimento, que produz relações coloniais de poder na América do Sul, com consentimento dos Governos locais causando deslocamentos de famílias, impactando nas relações socioambientais, degradando os recursos da natureza, o que leva estas comunidades a desenvolverem formas diversas de resistências que envolvem os seus conhecimentos tradicionais e a hibridação de suas culturas como forma de sobrevivências. Conclui-se que as comunidades de Saramaka e Gurupá representam lutas e resistências concretas de quilombolas na América do Sul, com constantes denúncias contra às violações de seus direitos, revelando a emergência de se enfrentar às concepções da modernidade eurocêntricas, que visam a manutenção de poderes coloniais a partir do discurso do desenvolvimento.


Palavras-chave

Quilombos. Territórios. Impactos Socioambientais.


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Referências


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/complexitas.v4i2.8078



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