Amazônia, desenvolvimento rural e crise agrícola-econômico-ecológica: entre a acumulação do capital e a manutenção da floresta e seus povos
Resumo
Discute as relações entre desenvolvimento rural e crise ecológica na Amazônia a partir do estudo comparado de três realidade rurais distintas que marcam os municípios de Paragominas, Cametá e Tomé Açu, no estado do Pará, Amazônia, Brasil. Os dados empíricos resultam da experiencia dos pesquisadores, produto de inúmeras viagens à campo e diálogo com agricultores, técnicos e pesquisadores nos municípios estudados. A partir dessas realidades, questiona a ausência das dimensões histórica, cultural e natural nos debates sobre desenvolvimento da agricultura e se coloca o problema do conflito estrutural entre natureza e economia. Identifica três trajetórias distintas: a expansão do modelo agrícola clássico convencional moderno, a intensificação do agroextrativismo e o surgimento de uma forma hibrida, baseada em agroflorestas. O modelo convencional, característica de Paragominas permite alto rendimentos econômicos, apesar de fortes impactos ambientais negativos. O modelo agroextrativista, presente em Cametá é ecologicamente equilibrado, entretanto reproduz pobreza no campo. Enquanto o modelo baseado em SAFs, típico de Tomé Açu, permite rendimentos moderados com sustentabilidade ecológica.
Palavras-chave
Amazônia, Agricultura, Crise Ecológica, Desenvolvimento Rural.
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PDFReferências
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