Confluências amazônicas: Estado, conflitos socioambientais e práticas sociopolíticas quilombolas, beiradeiras e ribeirinhas
Resumo
Esta proposta de dossiê nasce do encontro de pesquisadores acadêmicos, pesquisadores que trabalham na esfera executiva do Estado brasileiro e pesquisadores advindos de territórios de povos e comunidades tradicionais em torno de interesses comuns envolvendo a articulação entre Estado, antropologia, ambiente e natureza em territórios quilombolas, beiradeiros e ribeirinhos, principalmente na Amazônia.
Tal encontro se deu por ocasião do XIV Congresso da Sociedade para a Antropologia das Terras Baixas da América do Sul (Salsa), realizado em julho de 2023, em Letícia, na Colômbia. As contribuições que compõem esta proposta foram inicialmente organizadas em dois espaços independentes, um com maior foco em contextos ribeirinhos e outro em contextos quilombolas, mas ambos buscando destacar a relevância de tais contextos em um espaço tradicionalmente voltado à Antropologia com foco nos povos indígenas. Contudo, graças a uma bem-vinda sugestão da organização do evento, constatamos que os vários pontos de contato das questões que orientam o trabalho etnográfico e da realidade política dos territórios estudados poderiam resultar em um diálogo frutífero. E isso se mostrou verdadeiro, pois pudemos observar no congresso o grande interesse que tais temáticas despertavam no público presente. Por essa razão, entendemos que continuar e aprofundar esse diálogo por meio de uma publicação seria, também, uma contribuição de grande relevância neste campo em que nos encontramos.
Os textos que fazem parte desta coletânea exploram, assim, o encontro entre povos quilombolas e beiradeiros da Amazônia e o Estado brasileiro no que concerne a questões ambientais e da terra. Constatando que o Estado se faz cada vez mais presente na vida dessas comunidades buscando regulamentar o uso da terra, floresta e rios de seu território, os textos destacam a experiência dos povos e comunidades tradicionais não-indígenas que habitam a região, enfatizando a criatividade social e conceitual que surge dos encontros entre esses grupos e o Estado. Focamos principalmente nas formas pelas quais certos modos de habitar e se relacionar com o território são reconfigurados em meio aos processos burocráticos que envolvem as agências e agentes do Estado.
Todos os contextos apresentados neste dossiê se caracterizam por numerosos conflitos que envolvem, além do Estado nacional, agentes como grileiros, madeireiros e garimpeiros e outros atores que chegam pelas estradas e outros projetos de infraestrutura na região. Nosso objetivo é, assim, trazer à tona como ribeirinhos, beiradeiros e quilombolas conceituam e mobilizam práticas de cuidado com o território, e como tais conceitos e práticas se relacionam com os conceitos e práticas do Estado e mercado. Em outras palavras, a proposta de dossiê vai no sentido de apresentar a perspectiva de acadêmicos e pensadores quilombolas, ribeirinhos e beiradeiros sobre suas concepções e formas próprias de manejo e resistência, frente às pressões cada vez maiores de exploração de recursos naturais e minerais, resistências aos processos de esbulhos, dentre outras estratégias de forma, uso, ocupação e relação com o ambiente em que vivem.
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PDFDOI: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v16i2.15537
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